Entre os motivos estão as perdas nas lavouras e a falta de água potável para o consumo humano e animal em propriedades da zona rural
Mais de 510 mil litros de água potável distribuídos às famílias interioranas e perdas nas culturas da soja (35%) e milho grão e silagem (50 a 55%) que somam aproximadamente R$ 59 milhões em prejuízos aos agricultores das 35 comunidades de Guaporé. Estes são alguns fatores que obrigaram a Administração Municipal a publicar na quinta-feira, dia 24 de março, o decreto de situação de emergência em virtude da estiagem que atinge o Rio Grande do Sul desde dezembro de 2022. A declaração avaliza os laudos de verificação “in loco” das propriedades rurais pela Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC), Emater/ASCAR-RS, Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e Secretaria de Agricultura.
Ao longo dos últimos quatro meses, conforme a COMPDEC, o índice de precipitação pluviométrica atingiu 400 milímetros no município. O baixo volume de chuvas, somada às contínuas altas temperaturas, provocaram a falta de água em mais de 20 propriedades e o comprometimento da produtividade dos cerca de 1,5 mil hectares (ha) de milho silagem, 2,5 mil ha de milho grãos e dos 4 mil ha soja. Na bovinocultura do leite as perdas são estimadas em 15%, o que corresponde a mais de 2,4 mil litros. Nas safras das culturas da uva e laranja não há registros de prejuízos aos produtores.
Para o secretário da Agricultura, Edelvan Balbinotti, o homem do campo está sofrendo com a estiagem há quatro anos consecutivos e, mesmo com todo o preparo do solo e o cuidado na escolha das sementes e manutenção necessária na lavoura, é inevitável que não registre perdas com a situação climática vivida.
“Analisando os laudos e a situação, todos os órgãos voltados à agricultura guaporense optaram pela decretação de situação de emergência. É mais um momento difícil que o setor primário enfrenta e nós, dentro do que determina a Lei, estamos fazendo a nossa parte para, pelo menos, minimizar as perdas nas lavouras e financeiras futuras”, disse.
Conforme Rafael Pissetti, coordenador da COMPDEC, foram efetuadas vistorias técnicas e levantamentos fotográficos das propriedades rurais com registros de perdas nas lavouras para que o Município pudesse declarar a situação de emergência.
“Todos os dados foram colocados em planilhas e avaliados pelos integrantes dos órgãos ligados ao setor antes do envio à autoridade municipal. Levamos em conta as normativas que o Governo Estadual nos encaminhou e houve, dentro das novas regras e modelos de pareceres técnicos, uma facilitação para a decretação. Nós, diferente do que aconteceu em outras localidades, não nos precipitamos para a publicação”, disse o coordenador que destaca ainda:
“Muitos podem estar se perguntando: por que Guaporé demorou para decretar situação de emergência? Não nos precipitamos porque estávamos analisando detalhadamente os laudos e certificando que havia perdas significativas nas lavouras e prejuízos financeiros nas propriedades. De nada adianta decretarmos se, lá na frente, os Governos Estadual e Federal não homologam. Ficaríamos com um documento em mãos somente com validade municipal”, concluiu.
Para Pissetti, o maior problema e um dos pontos de análise que mais pesam para a homologação é a questão humana.
“Não que os prejuízos nas culturas sejam menos importantes, longe disso. Porém, a falta de água para o consumo humano destaca-se com um dos fatores de maior relevância dentro de um decreto e nós, infelizmente, mais uma vez tivemos que socorrer muitas famílias distribuindo água potável”, disse.
Mesmo com as chuvas registradas ao longo dos últimos dias, a entrega de água potável na zona rural prossegue com o caminhão pipa da COMPDEC.